A criação de gado de leite no Brasil tem ganhado cada vez mais destaque. Afinal, a atividade está mais moderna, profissional e, consequentemente, pode ser mais rentável. No entanto, trata-se um grande desafio uma vez que o lucro com a produção depende diretamente da adoção das estratégias corretas para minimizar os custos ao mesmo tempo que elevar a produtividade.
Neste artigo, vamos apresentar um passo a passo para criar gado de leite, abordando aspectos que vão desde a parte administrativa do negócio até questões sanitárias e nutricionais. Confira!
Trate a propriedade como uma empresa
Primeiramente, fazenda de criação de gado de leite, assim como outras atividades econômicas, deve ser encarada como uma empresa. Por isso, é preciso ter em mente que produzir grande quantidade de leite não é certeza de lucro. Pelo contrário, rebanhos menores podem ser muito rentáveis, desde que adotado o manejo correto. O mercado da área é bastante incerto e, portanto, não se pode descuidar dos índices de acompanhamento financeiro.
Esses indicadores ajudam a identificar onde estão sendo empregados os recursos financeiros e ainda:
- Reconhecer épocas do ano que demandam mais dinheiro;
- Planejar investimentos de curto e longo prazo;
- Comparar os objetivos planejados com os alcançados;
- Determinar o custo operacional da produção.
Também é preciso pensar que a criação de gado de leite é apenas um dos elos de uma cadeia de produção extensa e complexa. Dentro deste mercado, sabemos que o leite sofre influência de diversos fatores como as políticas econômicas, sazonalidade da produção, quantidade demandada pelo mercado, dentre outros.
Entre os diversos fatores que influenciam no preço pago ao produtor, podemos destacar:
- Época do ano
- Comportamento do consumidor de lácteos;
- Excesso/escassez de oferta de leite;
- Política econômica.
Esses fatores não podem ser controlados, ou seja, o produtor deve focar naquilo que ele pode interferir, como calcular muito bem os custos de produção e identificar os possíveis pontos de desperdício.
Acerte na escolha dos animais
Antes de escolher as vacas para a produção de leite é preciso conhecer bem as suas características e entender qual é a mais adequada em sua propriedade. Confira mais informações sobre cada uma delas!
Holandesa
A vaca holandesa é uma das mais tradicionais raças de produção leiteira no mundo. Com uma pacidade de produzir entre 6 a 10 mil kg em média em 305 dias de lactação, as holandesas foram selecionadas com o objetivo de desenvolver animais com melhor conversão alimentar no sistema de pastejo.
No entanto, é preciso se atentar para o fato de que esses animais não se adaptam bem a climas quentes e pastagens de produtividade sazonal, como ocorre no Brasil. Esses são animais recomendados para sistemas sofisticados de alta produção.
Gir
As vacas Gir fazem parte das raças Zebu leiteiras. Tem a sua origem na Índia e, portanto, tem como principal característica a rusticidade e a capacidade de se adaptar em temperaturas mais altas. Também apresentam uma boa conversão alimentar até mesmo em pastagens de mais baixo valor nutricional.
A raça Gir tem longevidade reprodutiva e produtiva, além de ser a linhagem indiana mais utilizada nos cruzamentos.
Girolando
Uma das mais populares no Brasil, a raça girolando é resultado do cruzamento da Holandesa com a Gir. A ideia é unir a alta produtividade da raça holandesa com a rusticidade e adaptabilidade da Gir.
Dessa forma, a raça Girolando se caracteriza por apresentar boa fertilidade, longevidade e precocidade sexual aliada à flexibilidade em diferentes tipos de manejo. Portanto, tem boa eficiência reprodutiva e conversão alimentar, o que confere um desempenho econômico muito satisfatório. Devido a essas características é ideal para produtores que estão começando.
Jersey
A Jersey também é uma raça europeia, no entanto, é mais rústica dos que as Holadesas. Devido à sua alta produção, são consideradas a segunda melhor raça leiteira, além de adaptar-se mais facilmente à adversidade e ter maior tolerância ao calor.
Por serem de menor porte, permite que o produtor tenha mais animais por hectare, levando a um menor custo na alimentação. Além disso, é a raça mais precoce entre as leiteiras, podendo ter a primeira cria entre os 15 e os 18 meses de idade.
Pardo Suíço
Esta é uma das raças mais antigas de bovinos de leite com origem ao sudeste da Suíça. Mesmo com essa origem nórdica, apresenta boa tolerância ao calor e boa produção de leite. Também contam com altas taxas de longevidade e fertilidade, além de transmitirem facilmente suas características nos cruzamentos entre linhagens.
Guzerá
A raça Guzerá também é uma raça indiana e há registros de que foi a primeira raça zebuína domesticada pelo homem. Trata-se de um animal altamente adaptável e possui dupla aptidão: leite e carne.
Graças a sua rusticidade, possui menor custo de produção e apresentam grande facilidade para ganhar peso, mesmo com menor investimento. Por isso, é indicada para iniciantes na criação de gado de leite.
Faça o manejo nutricional adequado
A criação de gado de leite deve, necessariamente, passar pela necessidade nutricional do animal. Isso representa uns dos principais fatores ligados à produtividade do animal.
A partir da nutrição é possível alterar a composição do leite, além de otimizar a produção e aumentar a eficiência reprodutiva.
No entanto, manejar vacas leiteiras não é uma tarefa fácil. Sendo assim, o caminho mais eficiente é entender as particularidades de cadas fase do ciclo lactacional e superar os desafios de cada um.
Em geral, o manejo nutricional do gado leiteiro é dividido nas seguintes fases:
- início de lactação;
- pico de consumo de alimento;
- metade e final da lactação;
- período seco;
- transição e período pré-parto.
Dito isso, alguns fatores são essenciais para o sucesso de um programa nutricional de gado de leite. A seguir, veja mais detalhes sobre cada um deles.
Priorize a produção de forragem
As forragens representam uma das principais fontes da alimentação volumosa do gado de leite pois garantem a ingestão de fibras para os animais. É por isso que é preciso cuidar para que o rebanho tenha acesso à forragem de qualidade o ano todo.
Uma forma de melhorar a oferta de forragem é investir na produção para aumentar o retorno por hectare das culturas forrageiras e de grãos em sua fazenda, a fim de maximizar tanto a qualidade quanto a quantidade de alimentos cultivados.
Reduza a perda de alimentos
A perda de alimentos pode gerar sérios prejuízos para a criação de gado de leite, por isso, é importante desenvolver estratégias para minimizar o desperdício. Os principais pontos que podem ser controlados são:
- Manejo e armazenamento de ingredientes de alimentação;
- Processo de mistura e fornecimento;
- Gestão do cocho de alimentação;
- Controle dos distúrbios relacionados ao clima.
Além disso, algumas formas de armazenamento dos alimentos permitem menores perdas e essas devem ser priorizadas. Além disso, deve-se dar atenção à limpeza e organização da área de alimentação.
Melhore o manejo dos cochos de alimentação
Um bom programa nutricional pode alinhar o manejo dos cochos de alimentação com a programação da ordenha. o Ideal é fornecer alimentos frescos quando as vacas forem à sala de ordenha, e organizar um preenchimento dos cochos durante 90 minutos após o retorno das vacas.
Outra dica importante é programar fornecimentos adicionais ao longo do dia para garantir que as vacas tenham acesso a alimentos sempre que quiserem. Afinal, cada quilo adicional de consumo de matéria seca é igual a dois quilos extras de leite.
Cuidado com o período de transição
O período de transição é aquele que antecede o parto e demanda uma série de cuidados especiais com alimentação e conforto. Nessa etapa você deve formular rações específicas para o período assim como maximizar conforto das vacas fornecendo espaço adequado pra deitar e comer enquanto minimiza os movimentos no curral.
Além disso, é importante manejar o cocho de alimentação focando apenas em forragens de boa qualidade na quantidade certa.
As vacas que estão no período que antecede ao parto devem ter mais de 0,76 metros de espaço no cocho e um mínimo de duas fontes de água limpa e fresca disponível em cada curral.
Implementar monitoramento diário da vaca, que deve incluir um exame da temperatura corporal, mudanças na atividade e mudanças no comportamento alimentar.
Manejo sanitário
O manejo sanitário do gado de leite é composto por um conjunto de práticas que merecem atenção especial dos produtores.Nesse sentido, entre as medidas podemos destacar as ações preventivas em relação a doenças (muitas delas transmissíveis aos homens) como vacinação e monitoramento, limpeza e desinfecção das instalações dos animais.
São pontos cruciais para a sanidade do rebanho:
- cuidados especiais com recém nascidos e bezerros;
- manejo das vacas prenhe;
- controle eficaz dos carrapatos;
- vacinação em dia.
Em propriedades de produção de leite ocorrem grandes perdas por erros ou negligências com esses manejos. Dentre as diversas ocorrências em vacas leiteiras, as mais citadas, geralmente são problemas reprodutivos, casco e mastite. Estes são citadas como principais causas de descarte involuntário dentro do sistema de produção e pode gerar grandes prejuízos ao produtor.
Manejo reprodutivo e melhoramento genético
Não há dúvidas de que o manejo reprodutivo de vacas é um aspecto essencial para ter sucesso na produção de gado de leite. É importante implementar programas de melhoramento sistemático para melhorar a eficiência da detecção do cio, melhorar a taxa de gestação aos 21 dias, minimizar a demanda de trabalho e, finalmente, melhorar o desempenho reprodutivo geral do rebanho.
Do mesmo modo, deve-se investir em melhoramento genético, já que a baixa produtividade do animal pode estar ligada às suas linhagens.
Portanto, é preciso investir em biotécnicas reprodutivas com o intuito de acelera a transmissão de características desejáveis aos descendentes. Em vacas leiteiras dois critérios podem ser empregados:
- Capacidade provável de produção: ela permite que o produtor rural tenha uma previsão da produção do animal com base em lactações passadas.
- Valor genético de produção: neste caso, o valor é estimado usando o registro do próprio animal e de parentes.
Há duas formas de fazer o melhoramento genético, por meio das biotecnologias ou da monta natural. Sem dúvidas, para o produtor que almeja aumentar a sua produção de leite, o uso das biotecnologias é a melhor opção. Já que, nesse caso o animal é previamente selecionado e comprovadamente superior tornando os resultados mais rápidos.
As técnicas usadas para o melhoramento genético são:
- Inseminação artificial;
- Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF);
- Transferência de Embrião;
- Fecundação In Vitro (FIV).
É preciso saber o que está fazendo
As fazendas de criação de gado de leite demandam cuidados especializados. É por isso que o sucesso da produção depende de conhecimento técnico e prático nas melhores estratégias de manejo. O responsável pelo rebanho, assim como a sua equipe, precisa entender todas as etapas da produção assim como ter uma visão gerencial da fazenda.
Uma única decisão errada pode levar o lucro por água abaixo e, se recuperar pode não ser tão fácil, principalmente frente a um cenário de instabilidade.
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Fontes: Revista Agropecuária, Educapoint, Fundação Roge, Nutrição e Saúde Animal