Os animais de estimação mais do que companheiros de brincadeiras e parceiros afetivos eles trazem inúmeras vantagens para o desenvolvimento e o bem-estar infantil.
De acordo com a psicóloga e veterinária Ceres Berger Faraco, presidente da Associação Médico-Veterinária Brasileira de Bem-Estar Animal, as crianças se relacionam facilmente com bichos de estimação porque ambos têm duas características importantes em comum: gostam de brincar e possuem uma comunicação mais gestual e menos verbal.
O envolvimento entre eles pode começar desde o berço, desde que supervisionado por adultos. De acordo com a psicóloga Kátia Aiello, diretora da área de comportamento animal do Instituto Nacional de Ações e Terapias Assistidas por Animais, o contato do bebê com o animal será sensorial. "Ele vai tocar o bicho, sentir o pelo, a respiração, as emoções. Com isso, vai ser um bebê mais observador."
Quando a criança começa a engatinhar, os adultos devem ficar mais atentos. Com liberdade de movimentos, o bebê começa a ir até o animal e, sem querer, pode machucá-lo ou incomodá-lo em um momento de descanso, provocando mordidas ou arranhões acidentais.
O relacionamento muda à medida que a criança cresce. Aos poucos, durante as brincadeiras, ela desenvolve uma compreensão maior de que se trata de um ser com vontades e reações próprias e treina sua capacidade de enxergar o mundo por outro ângulo. "Ela aprende a se colocar no lugar do outro. O animal age de uma maneira diferente das outras crianças, e ela vai ter de aprender a lidar com isso", diz Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal e apresentador do programa "Missão Pet", do canal pago National Geographic.
A relação com o animal também permite que a criança exercite sua imaginação, já que é comum que ela dê a ele papéis diferentes em cada brincadeira, segundo Kátia Aiello. O animal fará com que a criança comece a perceber as necessidades de outro ser e assim desenvolva noções de responsabilidade. "Com cinco anos, a criança pode começar a ver que o animal precisa de água senão ele morre de sede, por exemplo."
Para Kátia a criança por volta dos sete anos tem a capacidade de participar dos cuidados básicos com o animal, como ajudar no banho, no passeio e na escovação. "Coincide com a fase em que ela começa a cuidar de si mesma, passa a tomar banho sozinha."
Mas de acordo com Alexandre Rossi, a responsabilidade de cuidar do animal nunca deve ser totalmente da criança, pois ela não tem maturidade para compreender todas as necessidades e sentimentos do animal.
Outra lição que a criança aprende e coloca em prática com seu bicho de estimação é a do respeito ao espaço do outro. Para Rossi, é função dos pais ensinar ao filho, desde o início, a interagir apenas quando o animal vier até ele. "Precisa evitar que ele fique indo atrás, que mexa com o animal quando ele está comendo ou dormindo."
Para escolher um animal de estimação muitos pontos devem ser levados em conta na decisão de trazer um animal para a família, tendo sempre em vista que gatos e cachorros podem viver até 18 anos. "Deve haver um planejamento familiar com a participação da criança. Ajudar na decisão, acompanhar esse processo, é também um ótimo exercício de aprendizado", declara Ceres Faraco.
Na hora de escolher o tipo de animal, é preciso combinar aquele com potencial de melhor convívio com a criança com as condições que a família possui de dar a esse novo integrante uma boa qualidade de vida.
É preciso avaliar o espaço disponível, os gastos com banho, vacinas, exames, remédios e ração, além do tempo que os membros da casa terão para dedicar ao animal.
No processo de escolha, Rossi afirma que é importante deixar que a criança interaja com animais em casas de conhecidos antes de decidir. "Existe uma distância entre o que ela acha que vai poder fazer com aquele bicho, como vai brincar com ele, e a realidade."
Além de gatos e cachorros, há outros animais que podem ser criados em casas com crianças, como porquinhos-da-índia, miniporcos, peixes e aves. Rossi afirma que eles também estimulam a observação e a interação com seres muito diferentes. Além disso, por em geral viverem menos do que cães e gatos, ensinam a lidar com a morte de forma mais leve.
Um Estudo conduzido na Finlândia e publicado na revista americana "Pediatrics", em julho deste ano, constatou que bebês que tiveram contato com cães ou gatos no primeiro ano de vida apresentaram menos infecções respiratórias e de ouvido do que crianças que não cresceram próximas a esses animais. A pesquisa foi realizada por especialistas ligados ao Hospital Universitário e ao Instituto Nacional de Saúde e Bem-Estar da cidade finlandesa de Kuopio, da Universidade Oriental da Finlândia e da Universidade de Ulm, na Alemanha.
O pediatra Cid Pinheiro, do Hospital São Luiz, em São Paulo, diz que essa pesquisa está de acordo com a "teoria da sujeira". "Um ambiente totalmente estéril é ruim para a criança. Ela precisa ter contato com agentes que estimulem seu sistema imunológico dentro de casa, senão, quando sair desse ambiente, vai sofrer um choque e seu corpo pode não desenvolver a resposta adequada."
Hamilton Robledo, pediatra do Hospital São Camilo, na capital paulista, também não vê problema no convívio desde cedo entre o bebê e o bicho de estimação da família. "Não é porque chegou o bebê que o animal tem de ser abandonado", fala o especialista, que, no entanto, reforça a necessidade de supervisão constante.
Apesar do sinal verde dos dois especialistas, algumas medidas têm de ser observadas. O bicho precisa passar por consultas regulares com um veterinário para prevenir doenças, como toxoplasmose (infecção causada por protozoário), ser vermifugado e vacinado. Também é fundamental que ele tome banhos periodicamente. Outros cuidados incluem ficar atento a doenças de pele que possam aparecer no animal e recolher suas fezes rapidamente, não deixando que fiquem expostas na casa.
Animais que saem de casa sozinhos, como gatos, exigem atenção redobrada. Nesses casos, a visita ao veterinário deve ser de dois em dois meses e os contatos mais próximos, como beijos, precisam ser proibidos.
Se os pais notarem alterações na criança quando ela entra em contato com o animal, como espirros, coceira no nariz ou nos olhos, ela deve ser levada ao médico para uma avaliação. Caso comprove-se que ela tem alergia ao animal, o médico e a família deverão decidir sobre a conduta a ser adotada.
Para o pediatra Cid Pinheiro, nem sempre tirar o animal de perto pode ser a melhor solução. "Se a criança tem três ou quatro anos e já convive com o animal, tirá-lo da casa e do convívio dela seria como um óbito, então depende de cada caso."