A Cesariana em vacas é uma técnica cirúrgica utilizada em partos distócicos que não são resolvidos pelas manobras obstétricas, objetivando-se a sobrevivência da cria e matriz.
Antes da realização da cesariana, é de suma importância realizar exame clínico geral que consiste em avaliar condições de saúde do animal gestante e do feto, ale de examinar o aparelho reprodutor, pela palpação retal e vaginal. Este exame permite avaliar a largura e a abertura das vias fetais em comparação com o tamanho do feto. Além disso, deve-se avaliar a viabilidade fetal, apresentação fetal, postura e posicionamento, que podem dificultar o parto.
A cesariana é indicada em animais que foram submetidos a manobras obstétricas improdutivas, devido à distocias de origem fetal e ou materna, nos casos de longo período gestacional, vacas primíparas, fetos grandes, crias geradas por cruzamento de raças de dupla musculatura, ou mesmo em animais gerados por transferência de embriões.
As principais dificuldades encontradas de origem fetal são: gigantismo fetal absoluto ou relativo, monstruosidades, feto enfisematoso e impossibilidade de correção de distocia ou fetotomia. As distocias maternas podem ser causadas por estreitamento das vias fetais, abertura insuficiente ou estreitamento do canal cervical, gestação abdominal, oclusão do colo uterino, edema de vulva e vagina, torção uterina irreversível, toxemia e atonia uterina e severas hemorragias uterinas.
A cesariana eletiva é realizada com mais segurança e facilidade no primeiro estágio do parto. Deve-se decidir por ela quando a cervix estiver completamente dilatada. Respeitando esses fatores, o prognóstico em relação ao feto e a parturiente é mais favorável.
Para o obstetra é fundamental o conhecimento do histórico reprodutivo do animal, a realização do exame clínico para observar em qual corno uterino o feto se encontra, assim como o direcionamento do local mais indicado para a laparotomia.
São de extrema importância os procedimentos pré – operatórios com exterikização dos instrumentos cirúrgicos, disponibilidade dos materiais necessários (luva de palpação estéril, lubrificante obstétrico, ocitocina, gluconato de cálcio, antibióticos de amplo espectro, xilazina, lidocaina 2%, bupivacaina, agulhas 40 x 12, agulha em S, compressas estéreis, cordas para contenção, correntes e fios de sutura.)
Após a laparotomia inicia-se a procura pelo útero na cavidade abdominal, tentando tomar as partes fetais duras, como metacarpo e metatarso, apresentando sobre a incisão cirúrgica.
A incisão do útero deve ser feita com a tesoura de Lister, até que seja possível a retirada do feto, placenta ou parte dela, facilitando a síntese. Retira-se o ancoramento e o útero é suturado com a técnica de Cushing que consiste em uma síntese invaginante. O fio de sutura utilizado é o categute 2, 3 ou 4 e agulha atraumática . Solução estéril é utilizada para retirar coágulos aderidos ao órgão. Na síntese é recomendado aplicar superficialmente antibiótico de base oleosa, prevenindo futuras aderências.
Já a cesariana pela região paramamária (laparotomia ventrolateral oblíqua esquerda ou direita) proporciona maior facilidade para exteriorização do útero com menor possibilidade de contaminação abdominal, embora haja maior risco de herniação incisional.
O animal deve ser posicionado em decúbito lateral direito com os membros anteriores e posteriores amarrados, deixando-os esticados. Essa técnica é a mais comumente empregada em fêmeas que, ao não conseguirem expulsar o feto da maneira tradicional (em posição quadrupedal), cansadas e exaustas venha a decúbito lateral, motivo pelo qual se opta por essa técnica, que facilita a retirada do feto e permite a sutura dos planos.
A anestesia é local infiltrativa em linha de incisão, sendo utilizado em torno de 40 a 80 ml de anestésico local.
A incisão é iniciada na porção ventro-lateral caudal esquerda do abdômen e prolongada até no máximo a 4,5 centímetros da veia epigástrica superficial. Com a pele incisada deve-se divulcionar o subcutâneo, visualizando claramente a fáscia abdominal, amarelo-escura. A fáscia deve então ser incisada em um dos vértices com o bisturi e continuar com a tesoura de Lister. Com a tesoura deve-se iniciar a abertura sobre o músculo reto-abdominal, no centro da ferida e por divulsão digital separar as fibras musculares. O plano seguinte, constituído pela fáscia interna do músculo retoabdominal e o peritônio, é incisado com o bisturi e deve-se continuar com a tesoura de Lister na mesma direção.
Ao acessar a cavidade abdominal será encontrado o omento que deve ser rebatido para frente, aprisionado entre o rúmen e a parede abdominal esquerda (figura 21 A). Inicia-se então a procura pelo útero tentando tomar as partes fetais como ditos anteriormente na cesariana pelo flanco esquerdo. Após a apresentação do útero sobre o campo cirúrgico, a incisão deve ser feita pela curvatura maior (figura 21 B) e continuar com a tesoura de Lister até o comprimento necessário para remoção do feto (figura 22 A). Nesse momento é importante evitar a entrada de líquidos fetais na cavidade abdominal. A sutura no útero é realizada com padrão simples contínuo e depois Cushing com fios categute 3 ou 4 e agulha atraumática (figura 22 B). Higieniza-se a serosa do útero como dito na técnica anterior e instilar antibiótico de base oleosa na ferida, evitando futuras aderências, pode ser opcional.
A síntese da parede abdominal começa no vértice caudal, sendo realizada com o padrão de sutura simples interrompida ou em “X”, com categute n° 3 ou nylon 0,60, que inclui a fáscia e o peritônio de ambas as bordas. Também é aconselhável realizar sutura contínua do tecido subcutâneo, com pontos distanciados, aproximando as bordas da pele. A síntese da pele é idêntica à da mesma técnica citada anteriormente. Esses procedimentos são importantes para que corra bem tanto no processo quando na recuperação do animal após a cesariana.
Passo a Passo para realizar a cesariana bovina! Confira.
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