Uma redução na safra de milho em importantes países produtores deverá abrir uma janela de oportunidade para os agricultores brasileiros no mercado internacional. O relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado ontem, aponta uma queda de 1% no volume que o país, principal produtor da commodity, espera produzir na safra 2009/2010. O órgão norte-americano prevê retração no plantio de grãos da União Europeia (UE) para a próxima safra, uma vez que a queda dos preços e das exportações desestimula os produtores do bloco. A China, cuja demanda interna é hoje o principal fator de influência sobre o mercado de commodities agrícolas, também terá problemas na próxima temporada. A safra de milho do gigante asiático, a segunda maior do mundo, despencou 13%, mais do que o estimado, para seu menor nível dos últimos quatro anos, devido à seca incidente sobre as principais regiões de cultivo, segundo revelou uma pesquisa realizada junto aos produtores locais. A produção no país caiu de 165,9 milhões de toneladas para 144,3 milhões. Outro desestímulo à produção chinesa foi a diminuição em 16% na produtividade em razão da seca que devastou 8,01 milhões de hectares de terras cultivadas. Apenas na província de Jilin, que foi no passado a principal região produtora da China, o rendimento deverá cair 42%. "Foi uma seca regionalizada em partes da principal área de cultivo do nordeste do País", diz David Smoldt, vice-presidente da FCStone Group Inc. "Uma safra menor levará à queda dos estoques antes da colheita do ano que vem", afirma. Se na China foi a seca a responsável pela queda na produção, nos EUA o excesso de chuvas continua reduzindo a estimativa para a safra 2009/2010 de grãos. No País, concomitante à menor produção, haverá um aumento da destinação do milho para a produção de etanol, o que também deverá estimular o aumento dos preços internacionais do grão. Ao longo de 2009, os preços do milho estiveram em baixa tanto no mercado interno quanto externo. No Brasil, os preços considerados impraticáveis durante boa parte do ano, limitaram consideravelmente o escoamento do grão que ficou guardado ao ar livre por semanas. A má remuneração também desestimulou produtores de outras regiões. O USDA já prevê uma queda na produção do bloco devido às baixas cotações da última safra. "Sabe-se que a redução dos preços internos nos 27 países da UE, associada às dificuldades previstas nos mercados de exportação, está afetando negativamente as decisões de plantio da safra de 2010", informa relatório. Segundo o USDA, no leste da UE, apesar das excelentes condições de plantio, sabe-se que a queda da lucratividade no setor de grãos também está reduzindo a capacidade dos agricultores de obter o tão necessário crédito. Já na região ocidental, embora o crédito não seja problema, o clima seco adiou o plantio e deverá ampliar a vulnerabilidade das lavouras semeadas tardiamente às baixas temperaturas do inverno. O bloco também acaba de aprovar duas variedades de milho transgênico, o que deverá abrir ainda mais espaço para a importação de milho convencional do Brasil, já que Estados Unidos e Argentina, que são os maiores exportadores do grão, não conseguem atender essa demanda. Preços Os preços do milho dispararam na Bolsa de Chicago na segunda-feira, com alta de 5,18%. Mas ontem voltaram a cair, fechando a R$ 20,67 (-0,68%). Em dólar, ficaram em US$ 12,04 a saca (-1,60%). Além dos fundamentos pressionando positivamente os preços, a valorização está sendo provocada pela ação dos fundos de investimento que voltaram a apostar nesse mercado como alternativa de proteção contra a queda do dólar. No mercado interno, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), as cotações do milho tiveram comportamentos distintos nos últimos dias, o que é típico deste mercado durante a entressafra brasileira quando os preços oscilam mais em função da oferta e demanda locais do que por influências externas. Neste cenário, o Indicador Esalq/BM&F Bovespa de milho (Campinas) caiu 0,99% no acumulado do mês.